segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Testada nova vacina em 'spray' para o HIV

Estudo pré-clínico revela que aerossol desperta defesas
É mais um avanço no desenvolvimento de uma vacina contra a sida. Um estudo pré-clínico, da respon- sabilidade de uma equipa inter- nacional, que conta com a participação do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), com sede em Madrid, mostra que um aerossol, baseado na vacina que erradicou a varíola, é seguro e desperta as defesas dos macacos nos ensaios clínicos realizados. Os resultados em humanos são também positivos, tendo sido realizado um ensaio clínico de fase I com 40 voluntários sãos.

Neste trabalho participaram 20 cientistas oriundos de 12 centros de investigação de seis países europeus, que conseguiram, pela primeira vez, demonstrar que esta vacina inalada é segura e gera uma resposta imune, forte e prolongada no tempo. O modelo proposto é baseado em vectores do vírus inoculado modificados geneticamente. A administração por via respiratória, com aerossóis (nebulizadores) facilitaria o seu uso em programas de vacinação em países em vias de desenvolvimento.

Os trabalhos do grupo, coordenados pela fundação Eurovacc (destinada a desenvolver vacinas contra o vírus da sida), sobre a aplicabilidade por via respiratória, surgem publicados no último número da revista Proceedings da Academia Nacional dos Estados Unidos. Um artigo que se soma a outros dois trabalhos publicados em 2008 pela mesma equipa no Jornal de Virologia e Jornal de Medicina Experimental, nos quais são detalhados os ensaios realizados até ao momento em macacos e humanos.

Como explica o investigador participante Mariano Esteban, do Centro Nacional de Biotecnologia (do CSIC), em Madrid, o modelo utiliza anticorpos modificados do HIV para fomentar a activação no organismo de uma resposta celular e humoral contra o vírus da sida. A chave do modelo está nos vectores que emprega, nos canais utilizados para introduzir os anticorpos no organismo.

Esteban explica o método: "Utilizamos duas versões modificadas do vírus inoculado, usado como vacina na erradicação da varíola. Trata-se dos poxvírus MVA e NYVAC, que expressam quatro anticorpos modificados do HIV e que foram administrados junto com ADN que expressa os mesmo anticorpos". A descrição de estes vectores foi publicada em 2007 na revista Vaccine, pelo grupo de Mariano Esteban.

O primeiro ensaio do modelo foi provado em macacos e implicou o uso de anticorpos de HIV e SIV, o vírus da imunodeficiência em símios que deriva do HIV. De acordo com o investigador do CSIC, a experiência permitiu concluir, num primeiro momento, que os vectores induziam uma forte resposta e activavam os linfócitos CD4+ e CD8+, determinantes na defesa do organismo frente à doença. "Esta resposta do organismo dos macacos, enfrentando o SIV híbrido entre o HIV e o SIV, dava como resultado uma alta protecção contra a doença", garante Mariano Esteban.

Quanto aos resultados obtidos nos ensaios clínicos nos humanos, o investigador explica: "Cerca de 90% dos vacinados davam respostas imunes das células CD4+ e CD8+ específicas face aos anticorpos do HIV e estas respostas imunológicas do organismo mantinham-se durante, pelo menos, 72 semanas".

A equipa de investigadores planeia agora avançar com os ensaios clínicos de fase II em África, onde poderá avaliar a eficácia da vacina num maior número de voluntários. Uma avaliação de segurança que não tem, ainda, prazos para avançar.

Fonte:
Diario de Noticias
http://dn.sapo.pt/2008/02/13/ciencia/testada_nova_vacina_spray_para_o_hiv.html

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